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Monas e Michelin: tradições de Páscoa são renovadas por chefs na Catalunha

Na Catalunha, a Páscoa tem sabor de história, arte e identidade. E um de seus símbolos mais emblemáticos, a Mona de Pascua, vai muito além de uma simples tradição: ela desperta o talento dos confeiteiros mais criativos do país; Mais que isso, hoje se posiciona como um ativo importante para o turismo cultural e gastronômico da região.

Em 2025, com a Catalunha reconhecida oficialmente como Região Europeia da Gastronomia, as monas ganham ainda mais protagonismo — tanto como atração quanto como expressão autêntica de um território que sabe transformar tradição em valor.

Das roscas simbólicas às esculturas de chocolate
A origem da mona remonta ao costume dos padrinhos presentearem seus afilhados no domingo ou na segunda-feira de Páscoa. Antigamente, esse presente era uma rosca simples, feita com massa fermentada e decorada com ovos cozidos, que simbolizava o fim da Quaresma e o início de um período de fartura.

Com o passar dos anos, a tradição se reinventou. As roscas deram lugar ao chocolate, os ovos cozidos foram substituídos por ovos de chocolate, e a confeitaria catalã assumiu o papel de protagonista.

Durante a Semana Santa, as vitrines das confeitarias catalãs se transformam em verdadeiras galerias de arte comestível, com monas criadas por mestres confeiteiros que unem técnica, imaginação e narrativa.

Essas obras podem retratar personagens de cinema, monumentos históricos, referências culturais locais ou até homenagens a figuras públicas. Os preços variam, claro, mas é comum encontrar monas entre 40 e 70 euros (de R$ 265 a R$ 465, na cotação atual), dependendo da complexidade, do tamanho – e do nome por trás da criação.

Jordi Roca e os ovos que chocam: chocolate, cultura pop e alta confeitaria

Um dos nomes mais celebrados nessa revolução doce é Jordi Roca, do restaurante três estrelas Michelin El Celler de Can Roca, em Girona. Ao lado de sua esposa, Alejandra Rivas, Jordi criou a Rocambolesc, uma confeitaria lúdica e surpreendente onde os doces são tratados como personagens de histórias fantásticas.

Entre suas criações mais icônicas estão a Mona Lisa feita de chocolate e os ovos de dragão inspirados em Game of Thrones, Pokémon ou em Star Wars — obras que misturam cultura pop, precisão técnica e o encanto infantil de Jordi por narrativas visuais.

Além da Rocambolesc, Jordi comanda também a Casa Cacao, um hotel boutique e fábrica de chocolate em Girona, onde é possível ver de perto o processo artesanal do grão à barra, participar de degustações e descobrir as monas mais exclusivas da temporada.

O legado de Escribà e a mona de Páscoa de 80 quilos
Outro nome essencial é Christian Escribà, herdeiro da lendária Pastelería Escribà de Barcelona. Seu pai, Antoni Escribà, conhecido como o “mago do chocolate”, chegou a criar uma mona especialmente para Pablo Picasso, marcando para sempre a relação entre arte e confeitaria na Catalunha.

Em 2025, Christian produziu uma mona opulenta com 80 quilos de chocolate para celebrar o título da Catalunha como Região Europeia da Gastronomia. Decorada com frutas e embutidos típicos — todos feitos de açúcar com realismo impressionante — a peça teve a colaboração da confeiteira Patrícia Schmidt, brasileira radicada há mais de uma década em Barcelona, especialista em flores de açúcar e bolos esculturais de casamento.

Patrícia recriou miniaturas de fouet, butifarra (espécie de linguiça catalã) e frutas secas, valorizando os ingredientes locais e a herança culinária da região com técnica refinada e mãos brasileiras.